As Veredas da Graça

Martim Vasques da Cunha
1 min readFeb 22, 2019

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Riobaldo conta a sua vida
sua história sua linha
rumo a Deus rumo à espiral
que se enrodilha nos passos
da cobra e do redemoinho — onde
o Diabo se esconde
em cada partícula de vento
respirada pela boca
dos hermógenes pelos olhos
enevoados de Diadorim
por cada bicho que vive
neste sertão enorme
demais para caber
num maço de páginas —
mas a espiral a cobra
o redemoinho viram
uma corda que segura
o baldear do rio
pelas mãos abertas
e gratas e cada vez que
um laço da corda
se apavora de ser cortado
bem no meio do caminho
surge a cola dos cacos
passados e agarra o pobre
jagunço sob seus braços
ternos a abraçar
a graça final
a estória inspirada
nas veredas tortuosas
da alma de Deus
prestes a acabar
quando todos ouvirem
o silêncio a gritar.

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Martim Vasques da Cunha
Martim Vasques da Cunha

Written by Martim Vasques da Cunha

“My task which I am trying to achieve is, by the power of the written word, to make you hear, to make you feel — it is, before all, to make you see”. J. Conrad

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