História de Lázaro

Martim Vasques da Cunha
1 min readApr 23, 2019

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É uma escuridão nova esta,
que me cobre da cabeça aos pés.
Não sinto minhas mãos,
mal posso tocar o pensamento
que se esvai entre os dedos
de um tempo sem movimento.
Mas o mover-se é inútil:
minha paralisia nos membros da alma
se deve a estas trevas tácitas
ou a mim mesmo?
Antes, bem antes, mesmo no fim,
escutava as crianças, minhas irmãs e o mar.
Antes, sonhava que corria, que fugia —
agora, como posso me mexer
se todos os músculos já foram devorados?
É uma escuridão esta,
que destrói o resto da minha fé,
se tive alguma ou se tentaram
me ensinar.
Mas certas coisas não podem ser ensinadas,
muito menos dadas.
Elas apenas existem,
tal como esta escuridão que aprendo
a amar.

Então — uma luz me chama para fora
e o mármore escuro que me protegia
dissolve-se no toque cruel de
uma nova
vida, pronto para uma
nova
morte.

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Martim Vasques da Cunha
Martim Vasques da Cunha

Written by Martim Vasques da Cunha

“My task which I am trying to achieve is, by the power of the written word, to make you hear, to make you feel — it is, before all, to make you see”. J. Conrad

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