O Perseguidor

Martim Vasques da Cunha
1 min readJun 12, 2017

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Escapei da praia movediça
onde a areia e o mar tragavam
meus pés para encontrar
somente os trovões da alma.

Porque cada separação esconde
um germe de loucura, encarei
o poço da escuridão negado
pelos antepassados, incapazes

de vislumbrar o grão de
luz, plantado no passado
colhido na agonia cotidiana;
ou o alimento ofertado

aos deuses sedentos
de um porvir inútil, grávido
de trevas, anunciado
em um altar onde o fogo

arde nos olhos bêbados
de uma visão que nenhuma
lira traduziria
em harmonias e cantos

o que a alma anseia
quando, no combate
com o Anjo, a ferida é
o fruto da benção.

Mas no instante em que
a voz sussurra a lenta
queda deste mundo
dissolvido, o que fazer

se os ouvidos se calam
e o coração é apenas
mais uma batida no
pulso das estrelas?

Se ela diz ao corpo
que a jornada são lágrimas
sufocadas pela espuma do céu,
persigo então a resposta:

“Sim, sou o que vai ao
inferno quando quero
e de lá trago singelas,
claras, límpidas novidades”.

2006–2017

M.V.C.
S.D.G.

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Martim Vasques da Cunha
Martim Vasques da Cunha

Written by Martim Vasques da Cunha

“My task which I am trying to achieve is, by the power of the written word, to make you hear, to make you feel — it is, before all, to make you see”. J. Conrad

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