Personae

Martim Vasques da Cunha
1 min readJul 15, 2017

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Se te ofereceste de
presente a minha
sombra, o que farias?
Venderias no templo?

Repartirias com os pobres?
Enquadrarias em um museu?
“Para cada escuridão
abandonada, deixe

uma porta aberta” -
foi tua sugestão.
Ah, se, ao tivesses a minha
treva, pudesses ser a

luz que gravas os passos
trôpegos do meu caminho,
será que entenderias que
também teria de ter a

tua treva? Ou então
acreditas que a luz é
visível por uma claridade
que recobre somente

teus gestos e olhares?
Não. A luz desejada
pela tua mente não é a
que o teu coração consente;

abras então a porta deste
último, esqueças dos atalhos
do teu pensamento, do
teu enxame de idéias.

Sei porque vim e sei
que as trevas somente
são uma parte, nunca
o Todo. Mas — e tu?

Tu oferecerias minha
sombra aos vendilhões,
aos amantes da tua carne
e do teu mundo. Não

compreendes que este é
o verdadeiro presente?
Que não podes ser mais
devolvido? Pois é tudo

o que tenho e se não o
aceitas, também não me
terás. A viagem deveria
terminar por aqui.

Ainda espero, prenhe
na escuridão mais
fecunda, que compreendas
o que te foi dado.

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Martim Vasques da Cunha
Martim Vasques da Cunha

Written by Martim Vasques da Cunha

“My task which I am trying to achieve is, by the power of the written word, to make you hear, to make you feel — it is, before all, to make you see”. J. Conrad

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