Retrospectiva 2017, ou: Como consegui uma congestão mental

Martim Vasques da Cunha
13 min readDec 20, 2017

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Estava a caminhar pelas ruas acinzentadas e sombrias da cidade de São Paulo, absorto entre meus pensamentos, olhando calmamente por uma fresta e outra da luz do sol que saía das nuvens e caía lentamente nos prédios repletos de tintas sobrepostas e pichações que indicavam a sujeira de todo um mundo que queria se despedir, mas não sabia dizer como, quando comecei a pensar sobre as melhores coisas que li, vi e ouvi neste annus mirabilis de 2017, e então, de repente, sempre mais do que de repente, me veio à memória em primeiro lugar uma avalanche dos últimos lançamentos do mercado editorial, um caleidoscópio de livros que atulhou a minha consciência e que não me ajudou em nada a me decidir — uma enorme lista que ia do último tomo da série Homo Sacer, O Uso dos Corpos, de Giorgio Agamben, das polêmicas girardianas do irregular (porém brilhante) Culturas Shakespeareanas, de João Cézar de Castro Rocha, e do superior PréHistória e História, de Maurício Righi, do enciclopédico de 847 páginas A Moeda e a Lei, de Gustavo Franco, da ironia mordaz e melancólica de Theodore Dalrymple (a.k.a. Anthony Daniels) em Viagens aos confins do comunismo, da “aventura da conversação” registrada na correspondência entre Eric Voegelin e Leo Strauss (impressa no volume Fé e Filosofia Política), dos libelos contra a mentalidade revolucionária que são A Corrupção da Inteligência, Contra o Aborto e Inteligência Humilhada(respectivamente dos meus amigos Flávio Gordon, Francisco Razzo e Jonas Madureira), da defesa da liberdade artística que é o Guia Politicamente Incorreto dos Anos 1980 pelo Rock, do meu querido Lobão (e cujo posfácio tive a honra de escrever), da anatomia da consciência encontrada em O Que é a Inteligência, de Felipe Cherubin e José Tejada, a Bíblia da USP que é Descartes e a ordem das razões, de Martial Gueroult (lançado aqui com simbólicos 66 anos de atraso), somado ao testamento filosófico deste príncipe da FFLCH que foi Bento Prado, Jr. (com seu sucinto e revelador Ipseitas), passando pelas grandes experimentações ficcionais de Noite Dentro da Noite, de Joca Reiners Terron, e Nunca Houve Tanto Fim Como Agora, de Evandro Affonso Ferreira, o fôlego épico e simultaneamente intimista do romance mais ousado de Paul Auster (com o enigmático título 4321), a maturidade emocional dos volumes finais da Saga Napolitana escrita pela misteriosa Elena Ferrante (A História de quem parte e de quem fica e A História da Menina Perdida), a sofisticação narrativa de Domenico Starnone em Laços (provavelmente, o marido de Dona Ferrante, segundo as fofocas locais), somado à reflexão metafísica-histórica feita por Shusaku Endo nos sublimes Silêncio e Samurai, sem me esquecer, é claro, deste singelo volume de ensaio que é o excelente Quase Poética, de Érico Nogueira — o poeta mais talentoso da minha geração, sendo que ele só perde para o mestre Claudio Neves, que também lançou outro livro supremo de versos, Ouvido no Café da Livraria –, além do inacreditável A Sábia Ingenuidade do Dr. João Pinto Grande, que, apesar do inusitado nome, é um volume de contos com, pelo menos, quatro obras-primas do gênero (e duas narrativas que fazem o autor Yuri Vieira — que ganha aqui o devido crédito por batizar essa retrospectiva maluca que você está lendo — perder o pique, mas isso é outra história), terminando com dois belos volumes sobre o medievo, Manuscritos Notáveis, de Christopher De Hamel, e Impressões da Idade Média, do scholar Ricardo da Costa, os mais-do-que-contemporâneos Win Bigly, do único sujeito que previu exatamente como Donald Trump venceria as eleições, Scott Adams (sim, o criador de Dilbert), o volumoso compêndio histórico sobre as redes sociais do passado e do futuro que é The Square and The Tower, de Niall Ferguson, a dissecação sem misericórdia do Partido Democrata feita por Mark Lilla em The Once and Future Liberal — coincidindo de forma feliz com o surgimento deste grande filósofo político americano em terras brasileiras com os essenciais A Mente Imprudente e A Mente Naufragada –, sem me esquecer dos tratados sobre inovação tecnológica publicados por Benoit Godin no exterior (Innovation Constested e Models in Innovation), as reflexões teológicas de Rod Daher (com o fraco The Benedict Option), Greame Wood (com a reportagem perturbadora sobre o Estado Islâmico, A Guerra do Fim dos Tempos) e Christopher Dawson (na soberba coletânea de ensaios intitulada Inquéritos Sobre a Religião), ou então, se quisermos retroceder um pouco mais, este tratado sobre como as revoluções copernicana e cartesiana podem ter sido um embuste, escrito por Wolfgang Smith com o nome de A Sabedoria da Antiga Cosmologia, e que rima tematicamente com a reedição das obras de Gustavo Corção, iniciada por A Descoberta do Outro, além de ter assustadores paralelos com a terna descrição que Raul Juste Lores fez da decadência arquitetônica desta “plúmbea capital” que meus olhos contemplavam com afeto e amargura em seu São Paulo Nas Alturas e neste ponto o rio da consciência se avolumava de tal maneira que eu sabia que não poderia deixar para trás as pesquisas minuciosas de Luiz Costa Lima sobre o tema da melancolia na literatura (intitulado nada mais nada menos que Melancolia — Literatura) e a leveza ensaística de um Julian Barnes sobre a pintura (Mantendo um olho aberto), algo surpreendente para quem escreveu um denso romance sobre Shostakovich (O Ruído do Tempo), mas que fala, no fundo, sobre “a traição dos intelectuais” que acontece em todos os países com índole totalitária (especialmente os que se dizem democratas, como o Brasil), e quando estava prestes a terminar a minha caminhada, vi que ainda faltava o gigantesco tomo da Poesia Completa, de Alberto da Cunha Melo, cuja orelha tive a alegria de escrever graças ao convite de Claudia Cordeiro, e, mesmo assim, não sabia responder a mim mesmo sobre o que eu teria lido, ouvido e assistido neste annus mirabilis de 2017, e daí me veio aos olhos da minha mente a caixa da maravilhosa Biblioteca Antagonista, criada pela Editora Ayniê, liderada pelo intrépido Pedro Fonseca, e que tem os seguintes autores no catálogo recém-iniciado, uma ilustre lista que vai de Valéry a Isaiah Berlin, passando por Michael Oakeshott, Robert Musil e Cioran, até terminar com desconhecidos como (pelo menos entre a intelligentsia tupiniquim) Joseph Roth, Daniele Giglioli e Alfonso Berardinelli, quando então finalmente me veio, igual a um relâmpago, o nome do melhor livro que li em 2017, editado por esta mesma editora, e escrito por um filósofo italiano do qual nunca ouvi falar — Massimo Cacciari –, autor de um livro que me perturbou até os ossos da alma — O Poder que Freia. Trata-se de um pequeno tratado de menos de 200 páginas, com um argumento cerrado e inquietante: para Cacciari, o tempo que vivemos (“o tempo que resta”, segundo a maravilhosa expressão de Giorgio Agamben, autor com quem Cacciari dialoga constantemente neste livro) é permeado por aquilo que São Paulo Apóstolo chamava de katechon, algo-alguém-alguma coisa — enfim, que detém um poder — que contém-retém-freia-atrasa o definitivo triunfo do Espírito da impiedade (apelidado entre nós de “O Anticristo”), travando assim o seu aniquilamento pela força da boca do sopro do Senhor. Aparentemente, presumimos que os poderes que exerceriam esta função seriam o do Estado (em especial, na sua variação imperial — ou globalista, como os conservadores caps-lock gostam de chamar) e o da Igreja, mas é neste ponto que Cacciari provoca uma reviravolta em seu raciocínio. De fato, o Estado e a Igreja fazem igualmente parte do katechon, porém há, na verdade, um campo de forças e de tensões sobrepostas, que se acumulam e se dissolvem, às vezes de forma consciente, outras vezes de maneira imperceptível para a consciência humana, e esta rede nos dá a certeza de que o tempo que nos resta só será plenamente resolvido em um grande evento apocalíptico de proporções inimagináveis. Entretanto, devido justamente ao poder do katechon, que freia tal desenlace definitivo, Cacciari mostra que as crises mundiais (políticas, sociais, espirituais) se tornam progressivamente permanentes, sem nenhuma solução aparente, e o que era antes era a síndrome de Prometeu, revoltado contra os deuses (ou o Deus, neste caso) que não o compreendem na sua agonia pelo conhecimento definitivo que explicaria tudo (o gnosticismo atormentado da modernidade), agora é a era do irmão deste titã, Epimeteu, aquele que abriu a boceta (como diriam os portugueses arcaicos) de sua esposa, Pandora, e esqueceu a esperança lá dentro, para algum dia (quem sabe?) encontrarmos alguma coisa, seja lá o que for, Deo volente. Massimo Cacciari não alivia para ninguém: seu estilo é quase hermético (como o deste texto que deveria ser uma retrospectiva, mas se tornou algo completamente diferente, uma forma de mimetismo da congestão mental, graças à prosódia confusa deste escriba), repleto de trocadilhos e neologismos, mas é perfeitamente coerente com a era da insecuritas descrita com a precisão de um entomologista, uma era na qual todos nós estamos imersos, e que, pior, sequer reconhecemos como algo positiva. Cacciari está aí para nos ensinar exatamente isto: a insecuritas pode trazer a paralisia e a anomia — a stasis da guerra civil indefinida e indiferenciada — em tudo ao nosso redor, mas o reconhecimento de que vivemos em pleno katechon nos induz a concluir que não há outra solução exceto aceitar tal cenário de impermanência — e que devemos fazermos algo a respeito. O Poder que Freia me incomodou porque não queremos (não, eu não quero) aceitar que a esperança restante neste mundo significa viver no oceano do desespero, sem nenhuma outra mediação — seja a do Estado ou da Igreja — , e também porque todas as mediações foram destruídas por completo. Mas nenhuma dessas mediações supera a da imagem e agora, em segundo lugar, a minha congestão mental impregnou-se dos filmes que passaram pelas minhas retinas bem fatigadas e que não se esqueceram, por exemplo, das freiras atormentadas de Agnus Dei (de Anne Fontaine), do coronal Fawcett que busca obsessivamente o seu Eldorado particular em A Cidade Perdida de Z (um James Gray em estado de graça, com direito a citações a David Lean e ao Fellini de I Vitelloni), dos soldados encurralados de Dunkirk (no qual Christopher Nolan prova aos seus detratores que ele pode realizar filmes curtos, mais humanos e com referências musicais ao Edward Elgar das Variações Enigma), aos músicos enamorados de Song to Song (Terrence Malick fechando o seu quarteto autobiográfico com Patti Smith a meditar sobre Rimbaud), o poeta que percebe a beleza nas pequenas coisas que nos denunciam — o Paterson feito por um Adam Driver que não tem nada a ver com o Kylo Ren de Star Wars — Os Últimos Jedi (uma decepção que só Rian Johnson, o talentoso cineasta que sofre da “maldição de Terry Gilliam” [leia-se: boas ideias sem nenhuma execução eficaz] poderia trazer para esse final de ano) — mas que, nas mãos de Jim Jarmusch, transforma-se em um ator em estado de graça, algo semelhante ao que o inglês Terence Davies fez com Cynthia Nixon ao retratar ninguém menos que Emily Dickinson, uma das poetisas favoritas aqui da casa, no impecável Além das Palavras (uma tradução apalermada para A Quiet Passion), ou então o que o estreante William Oldroyd faz com a novata Florence Pugh no implacável Lady Macbeth, pequena obra-prima baseada na outra pequena obra-prima do russo Nicolai Leskov, de uma frieza exemplar e calculada, um ritmo gélido e angustiante que é também a marca registrada de Denis Villenueve em Blade Runner 2049, a continuação do clássico de 1982 dirigido por Ridley Scott, e que dá a chance tanto para Harrison Ford como para Ryan Gosling de fazerem os papéis de suas carreiras (além de recuperar plenamente os conceitos perturbadores sobre a natureza humana meditados por Philip K. Dick), um filme sobre as palavras e os sentimentos que nos dominam, sobre as histórias que devemos contar para nós mesmos para encontrarmos um sentido em nossas vidas — algo que liga o terrorista enfant terrible William Powers e o jornalista veterano Gay Talese nos dois documentários feitos a partir de suas vidas, respectivamente American Anarchist e Voyeur — sem nos esquecermos, obviamente, daquele que, para mim, foi o melhor filme do ano, a grande obra-prima de Martin Scorsese, baseada no romance de Shusaku Endo, Silêncio, uma experiência de fé no cinema e na expectativa da redenção nesta era do katechon que, na minha modesta opinião, só tem paralelos com o que David Lynch fez tanto no documentário sobre a sua carreira como pintor (David Lynch: The Art Life) e também nesta grande alucinação imagética que foram os 18 episódios de Twin Peaks: The Return, que pode ser classificada como série ou como filme, mas, no fundo, é uma reflexão perturbadora sobre como nós nos deixamos possuir pelas forças obscuras do nosso passado e não permitimos “fix our hearts” — e assim morrermos de uma vez por todas, sem nenhuma chance de redenção ou reparação no fluxo do tempo (pois, afinal de contas, em que ano que estamos, não é mesmo? — em 1991, 2016 ou 1945, quando a primeira bomba de hidrogênio foi detonada no Projeto Trinity, em pleno deserto de White Sands, Nevada, dando início ao Antropoceno que nos comanda?). Esta mesma experiência (mística, poderíamos dizer?) é igualmente procurada por Paolo Sorrentino em seu The Young Pope, uma minissérie aparentemente irreverente sobre o Vaticano, mas que, na verdade, é uma das maiores meditações sobre a santidade já produzidas neste início do século XXI — esta nobreza da alma que, na verdade, é recuperada lentamente por narradores de alto calibre como Peter Morgan (na segunda temporada de The Crown, na qual o perdão é visto como a única estratégia possível para manter a hierarquia de um governo), Damon Lindelof e Tom Perrotta (na terceira, última e sublime temporada de The Leftovers, que finalmente conserta os equívocos de Lost e mostra que é perfeitamente razoável reconhecer a existência de um “outro mundo”), Noah Hawley (que, com Legion e a terceira temporada de Fargo, transforma-se em um dos gigantes da TV, alguém comparável a um David Chase ou a um Matthew Weiner), David Simon e George Pelecanos (que mostram que há uma dignidade até mesmo nos trabalhos mais indignos, nesta nova variação sobre o que seria o “estado de exceção” em The Deuce), Steve Lightfoot (que encontra um sentido na violência com a sua reeleitura do personagem Frank Castle em The Punisher), David Fincher e Joe Penhall (neste estudo sobre metodologia da pesquisa científica ao encarar o Mal que é Mindhunter), Scott Frank (com Godless, uma aula de narrativa), Michael Schur (na engraçada e leve, repleta de discussões filosóficas cifradas, The Good Place) e Margaret Atwood, que inspirou e supervisou duas grandes séries de 2017 — The Handsmaid´s Tale (um tanto irregular, porém suficientemente assustadora ao mostrar uma distopia conservadora que não deixa nada a dever às distopias comunistas) e Alias Grace (um primor de ambiguidade narrativa e que deixará vários homens e várias mulheres de cabelos em pé nesses tempos de Weinstein Effect). Em terceiro lugar, com essas imagens gravadas na minha memória, passei para os sons que conquistaram a minha sensibilidade — e aqui a congestão mental se torna formidavelmente harmônica, com os primosoros álbuns de Bob Dylan — o triplo Triplicate, o resgate de uma América que não existe mais por meio de seu cancioneiro, e o volume de raridades Trouble No More, que prova que o seu período gospel é tão fundamental quanto a década de 1960 para a psique americana — , James Murphy & Cia. Ltda — o LCD Soundsystem que, com American Dream, se despede dos seus mestres David Bowie e Lou Reed —, Charlotte Gainbourg — com Rest, uma carta de amor aos familiares que se foram e aos filhos que ficam — , Lana Del Rey, no deliberadamente ultraproduzido Lust for Life, no qual ela faz um retrato impiedoso desta futilidade que se tornou a mulher dos tempos de millenials, nos melancólicos Sleep Well Beast, do The National, e Everything Now!, do Arcade Fire — ainda que este último seja um melancólico cheio de suingue —, nos progressivos Concrete and Gold, do Foo Fighters (e um Dave Grohl que prova, mais uma vez, ser um compositor de mão cheia) e Villains, do Queens of Stone Age (e que tem uma pequena jóia da canção pop chamada “Fortress”), para terminar com Songs of Experience, um U2 que fez um álbum a lá The Killers, e Wonderful Wonderful, um The Killers que fez um álbum a lá U2 — o que pode parecer muito confuso para você, e deve ser mesmo, mas não se inquiete com isso, pois como diriam as minhas duas descobertas literárias do ano — Paul Feyerabend e Michael Polanyi — , a verdadeira inovação é sempre feita como algo eficaz principalmente se não houver método algum ou lógica nenhuma; e foi assim que continuei a caminhar pelas ruas acinzentadas e sombrias da cidade de São Paulo, absorto entre meus pensamentos, olhando calmamente por uma fresta e outra da luz do sol que saía das nuvens e caía lentamente nos prédios repletos de tintas sobrepostas e pichações que indicavam a sujeira de todo um mundo que queria se despedir, mas não sabia dizer como, e terminei de pensar sobre o que eu li, assisti e ouvi neste annus mirabilis de 2017, e então, de repente, sempre mais do que de repente, tudo terminou em uma explosão de luz, um ofuscamento, um epifania de que tudo o que fazemos não passa de uma manifestação do “tempo que nos resta”, do poder que freia a nossa aniquilação, a minha, a sua, a deste texto que deveria terminar agora, e terminará, não com um suspiro ou um estrondo, como previu Eliot, e sim com o nascimento de um deus que ninguém sabe ainda quem será ou o que Ele é, neste katechon que nos domina e nos apavora e nos rodeia igual a serpente que devora o próprio rabo, mas que, no final (porque as coisas que importam sempre acontecem no final, não é mesmo?), revela-se como aquele menino que nasceu na manjedoura, o menino que ensinaria os mestres no templo, que cresceria e que se tornaria enfim o homem a quem todos nós devemos nos espelhar — mesmo com todas as congestões mentais que ocorrerão no futuro — e a quem desejamos, seja a ele, seja a você, caro leitor, cara leitora, um Santo Natal e um Próspero Ano Novo, and amen to that, sir.

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Martim Vasques da Cunha
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Written by Martim Vasques da Cunha

“My task which I am trying to achieve is, by the power of the written word, to make you hear, to make you feel — it is, before all, to make you see”. J. Conrad

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