Ícaro

Martim Vasques da Cunha
1 min readJul 18, 2017

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Hora de enterrar Ícaro:
a terra amorosa nas mãos
deve colocá-lo com afeto
necessário — para que

a morte não se torne uma
adaga que perfure o seu
coração. Hora de enterrar
Ícaro, deixar que o orgulho

não consume ou crie a sua
soberba porque, afinal, todos
têm as asas dele; todos
têm o mesmo sonho de atingir

o Sol sem a destruição,
ainda que isso seja inevitável.
Hora de enterrar Ícaro:
com amor, se puder, porque

o cansaço tomou conta do
corpo e não há nenhum
presente que suporte a carga
de tão enorme passado.

Hora de enterrar Ícaro:
o labirinto não começa
com o Minotauro, mas
na saída da prisão onde,

sem dúvida, o mundo é o
muro contra o qual nossas mentes
sequer imaginam que sempre
é hora, o instante de

enterrar (para sempre) Ícaro.

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Martim Vasques da Cunha
Martim Vasques da Cunha

Written by Martim Vasques da Cunha

“My task which I am trying to achieve is, by the power of the written word, to make you hear, to make you feel — it is, before all, to make you see”. J. Conrad

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